O
ano era aproximadamente 3.547. Aproximadamente porque
por algum tempo não havia mais padrão de
contagem de tempo. Cada núcleo restante fazia de
acordo com seus interesses de momento.
Núcleos
restantes eram agrupamentos sociais com regras próprias
e leis feitas pelos seus componentes. Não havia
divisão hierárquica ou por raça,
espécie ou convicção. Isso não
existia mais. Os núcleos restantes se formaram
por afinidades e pelo sentimento permanente de evolução.
Muita
coisa deixou de existir também: dinheiro, poder,
organização, planejamento e principalmente
ordem. Mas não vivemos no caos, muito pelo contrário.
A guerra não destruiu os princípios básicos
sociais, mas foi fulminante para extinguir todo e qualquer
sinal de autoridade ou organização.
Ainda
assim, o universo consciente mantém sua existência
e, contrariando todos os prognósticos mais otimistas
do período anterior à guerra, evolui. De
certa forma, não na mesma velocidade ou direção
que antes, mas certamente bem mais coerente com a natureza
de cada núcleo.
Foi
uma guerra sem sentido, sem natureza precisa ou origem
mapeável no tempo. Começou por causa de
pequenas disputas e principalmente por causa de antigas
lendas. Destruiu mais a organização tecnocrata
e a burocracia oficial, do que os meios físicos.
Terminou a era da posse indiscriminada, pois num universo
desorganizado ela deixa de fazer sentido. E no entanto,
toda a beleza da existência se resume a uma evolução
permanente. Evoluir social e tecnicamente. O conhecimento
de sí e do mundo é o grande objetivo de
todos.
Estamos
todos diante de uma nova etapa, uma nova era. Como o universo
será, daqui a milhares de anos, dependerá
de como iremos interagir na sua reordenação
(se é que se pretende uma nova ordem, ou restaurar
a antiga).
Atravessamos
o ponto zero de uma nova civilização.