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YouTube: até quando vale a pena?

Era uma noite escura e tempestuosa no YouTube. Ou pensando melhor, também pode ser que não.

Renato Degiovani05-2017

Vamos combinar algumas coisas antes:

  1. Foi genial a ideia de compartilhar vídeos feitos pelos internautas;
  2. Implantar um esquema de monetização via vizualização foi um sinal de evolução natural;
  3. Dar um pedaço dessa monetização para quem produzia os vídeos foi estratégico para crescer;
  4. Não demorou muito até os criativos perceberem o serviço paralelo de "ver pelos outros";
  5. Era previsível que um dia a brincadeira ia perder a graça.

Pois é, não adianta ficar nas lamentações, chorando o leite derramado: o YouTube mudou as regras na calada da noite justamente para tentar salvar o produto principal, ou seja, ele mesmo. Para isso usou algumas desculpas esfarrapadas, do tipo "family friendly", que não colam nem com fita dupla face (na cabeça dos politicamente corretos até talvez). A verdade nua e crua é que muito do que acontece na mãe de todas as coletâneas de vídeo estava mais pra fumaça do que propriamente para resultados concretos.

Muita gente ganhou dinheiro com isso e alguns chegaram a ganhar muito dinheiro. Mas na média, dentre aqueles que tinham algum resultado, dava pra ir levando como um extra. Quem acreditou que podia ser mais do que isso, deve colocar as barbas de molho, porque a fonte secou.

Para quem assiste os vídeos, é excelente: basta dar uma olhadinha agora e você vai ver que "sumiu" aquela montanha de banners que você "tem" que ver enquanto assiste o vídeo selecionado. Pra quem dependia disso para sobreviver ou como forma alternativa de exercer uma profissão, a decisão é péssima.

Para quem assiste os vídeos, é excelente: basta dar uma olhadinha e ver que sumiu aquela montanha de banners.

Mas veja a coisa pelo lado do serviço: mais cedo ou mais tarde os anunciantes iam perceber que muito daqueles "zilhões" de views era fumaça. Não tinha ninguém de fato vendo as propagandas, mas apenas robozinhos chineses, ou coreanos, ou seja lá de onde for. O retorno dos anúncios deveria ser um ponto de interrogação, para quem colocou dinheiro nessa modalidade – de um lado o YouTube dizendo que seu banner foi visto por 25.523.534 pessoas e do outro lado o departamento de vendas relatando que os pedidos continuam baixos.

A recente decisão do YouTube de "limpar" os vídeos parece muito mais uma decisão preventiva, do tipo antes que a casa caia, do que necessariamente uma cruzada contra os pequenos produtores de conteúdo, coitadinhos, que não conseguirão mais monetizar seus vídeos ou ainda contra a "violência" randômica_cheia_de_ódio de alguns. Assim, o lance volta a ser uma plataforma de divulgação de vídeos pseudo amadores, com uma ou outra possibilidade de monetização.

Nem todo mundo é igual a todo mundo

Espere um pouco: nem todo mundo se dispôs a fazer palhaçadas diante de uma câmera para angariar views. Alguns utilizaram a ferramenta para ampliar a divulgação do que já fazem ou faziam como trabalho. E esses não precisam ou não devem querer views comprados, mas sim views de verdade. Para esses as mudanças no YouTube são tudo de bom.

Ah tá, ia esquecendo do mais importante: antes de reclamar que seu canal anda dando traço no ibope das vizualizações, é preciso saber se de fato ele tem chances no mundo real de ser visto e apreciado por aquela montanha de gente que é ostentada no canto direito do vídeo. Eu sei que todo mundo acha que o seu próprio vídeo é excelente e é o vizinho que emporcalha a plataforma, mas cá entre nós...

Respondendo a questão proposta: vale e vale muito a pena estar no YouTube sempre, como complemento da divulgação do seu produto, música, jogo, serviço, etc e antes que você diga "estou mudando para a plataforma tal", quando menos esperar ela vai tomar as mesmas decisões do YouTube. Basta a plataforma se tornar relevante.

Em tempo: embora o Facebook não monetize os seus posts e lá o problema seja bem parecido mas para quem investe em anúncios, o pessoal já começou a sinalizar que "vai olhar com outros olhos" as postagens politicamente incorretas.

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Renato Degiovani é game designer e produtor de jogos desde o começo da década de 80. Foi editor da revista Micro Sistemas e produz o site TILT online desde 1997.