O calor e a umidade da mata tornavam a marcha ainda mais sufocante. Nuru, sempre à frente do grupo, resmungava com sua voz rouca:

— Vamos, não podemos parar aqui. Eles podem perceber que estamos atravessando suas terras.

Não era fácil avançar naquele cenário: cinco dias haviam se passado desde a saída da vila, sem que tivéssemos mais que algumas horas de descanso. Éramos apenas três dos sete que partiram, há meses, do Rio de Janeiro. As lembranças daqueles primeiros momentos, quando ainda estávamos tomados pelo espírito de aventura, já começavam a esmaecer.

Martins, que ficara na retaguarda, parecia o mais debilitado. Mas eu mesmo não estava mais me aguentando, e resmungava sempre que Nuru olhava para trás. Ele me encarava e devolvia o resmungo:

— Só vamos parar na divisa. Se nos pegarem aqui, de nada vai adiantar o tratado. Vamos ser mortos aqui mesmo.

E foi neste exato momento que as águas do Guaporé apareceram, meio encobertas entre as árvores espessas e a vegetação exuberante. Nuru tirou seu machado da cinta e começou a cortar alguns troncos de árvores mais jovens.

— Santo Deus, homem, dez minutos pra respirar. É só o que peço.

Nuru olhou firme em minha direção:

— Não vou perder minha vida por conta de dez minutos.

Com empenho, juntamos então alguns troncos e começamos a amarrá-los para fazer uma jangada. A mata não seria nosso túmulo, mas as águas do Guaporé talvez tivessem outras intenções:

— Vamos esperar pela noite para atravessar.

Finalmente Nuru disse algo capaz de alegrar nossas almas cansadas. Martins, coitado, já havia desmaiado entre as raízes das árvores. Mas, claro, nada de acender uma fogueira para aquecer os ossos encharcados pela umidade da mata, típica daquela época do ano. Só faltava mesmo chover. Bem, não faltava mais.

As horas passavam como se fossem dias, até que finalmente Nuru deu a ordem:

— Vamos agora.

Lançamos a pequena jangada nas águas calmas do Guaporé, e Martins não hesitou em fazer o sinal da cruz. Pensei comigo, que seja o que tiver de ser. E lá fomos nós, vencendo cada metro do rio com o esforço coordenado pelo nosso guia:

— Vamos seus molengas, força. Temos que chegar logo na margem. Aqui é muito perigoso e a Lua pode nos denunciar com facilidade.

Finalmente chegamos, e Nuru não fez por menos:

— Vamos entrar na mata mais um pouco e aí descansar. O Príncipe não deve estar muito longe, mas não vamos chegar lá no escuro.

Meu Deus, pensei comigo mesmo: onde eu estava com a cabeça ao chamar esse mestiço de índio com negro, espanhol e português para ser o nosso guia? Mas tive de reconhecer que a travessia da mata não seria possível sem a sua ajuda. Mesmo agora, tendo sobrado apenas três dos sete que partiram do Rio de Janeiro, a escolha parecia ter sido acertada — descontado todo o sofrimento até aquele ponto.