O forte Príncipe da Beira
Um cenário deslumbrante... um local perfeito para lendas


Construído às margens do Rio Guaporé no ano de 1776, estrategicamente localizado na fronteira de Rondônia com a Bolívia, tinha como objetivo defender o território brasileiro de possíveis invasões espanholas. Hoje restam apenas ruínas. Virou sítio arqueológico após encontrarem ferramentas indígenas de pedra lascada datadas de 10 mil anos. Gigante abandonado sem nunca ter sido usado, mais parece uma cidade perdida no meio da floresta.

As instruções de 1748 para o primeiro governador de Mato Grosso, Capitão General Antônio Rolim de Moura Tavares, são as de que mantenha a qualquer custo a ocupação da margem direita do Rio Guaporé, ameaçado por incursões espanholas e indígenas, oriundas dos povoados instalados à margem esquerda desse rio desde 1743.

Em 1759 é finalmente erguido um forte, na margem direita do Guaporé, a cerca de dois quilômetros do local onde existira a missão espanhola de Santa Rosa (1754). Denominado de Nossa Senhora da Conceição, certamente era de faxina, cercado por uma paliçada. Em poucos anos se encontrava em ruínas, ante as renovadas incursões espanholas, entre as quais a de 1762. Na ocasião, forças espanholas, (800 ou 1200 homens segundo as fontes), em 40 canoas, atacaram pelo rio, levando o governador Rolim de Moura a retirar-se com a sua tropa, para retornar em seguida com reforços, desalojando os espanhóis. Este forte, reconstruído pelo governador Luiz Pinto de Souza Coutinho em 1772, é rebatizado como Forte de Bragança, e mais tarde, novamente em ruínas, será substituído pelo futuro Príncipe da Beira.

Cabe ao quarto governador e Capitão General da Província de Mato Grosso, Dom Luiz Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, em viagem ao final de 1773, descendo o Guaporé no desempenho das ordens régias que lhe haviam sido confiadas, inspecionar e aprovar o local para a futura construção "de pedra e cal", em substituição à anterior, então arruinada, e da qual distava cerca de dois quilômetros.

A fortaleza do Príncipe da Beira, ou Real Forte Príncipe da Beira, em homenagem a D. José, Rei de Portugal, teve a sua pedra fundamental lançada em 20 de junho de 1776, sob a orientação do adjunto de infantaria e engenheiro Domingos Sambuceti. O plano, na forma de um quadrado no sistema de Vauban, com 970m de perímetro e muralhas de 10 metros de altura cercadas por um largo fosso, compreende quatro baluartes, guarnecidos originalmente com 56 peças de artilharia.

De acordo com o costume da época, os baluartes foram consagrados a Nossa Senhora da Conceição, Santa Bárbara, Santo Antônio de Pádua e Santo André Avelino. O ingresso se dá por um portão monumental, com cerca de 3m de largura.

No interior, a fortificação abrigava 14 residências destinadas ao comandante e seus oficiais, bem como Capela, armazéns e depósitos de víveres e de munições.

As primeiras pedras necessárias à fortificação teriam vindo pelos rios Amazonas e Madeira desde Belém. Posteriormente vêm de Albuquerque e Corumbá, em Mato Grosso, subindo o Rio Paraguai até ao Jaurú, e daí por terra até ao Guaporé, totalizando cerca de 1.500 Km de jornada. Mais de duzentos homens teriam trabalhado na sua construção, durante a qual falece Sambuceti, substituído então pelo Capitão de Engenheiros Ricardo Franco de Almeida e Sena, que a conclui em agosto de 1783. Este Capitão irá se distinguir mais tarde como herói de Corumbá, resistindo vitorioso à investida espanhola comandada por Dom Lázaro de Ribeira.

O primeiro comandante do Forte foi o Capitão de Dragões da Capitania de Goiás, José de Mello Castro da Silva e Vilhena, que havia assistido o lançamento da pedra fundamental seis anos antes, e que, ao que consta, encontrava-se exilado em Mato Grosso.

A partir do final do século 18, consolidada a presença portuguesa na região a fortaleza perde a importância, cessando as informações a seu respeito. Abandonada em 1889 quando da proclamação da República, suas instalações foram saqueadas tanto por brasileiros quanto por bolivianos e depois tragada pela selva amazônica, que dela se apoderou.

Rondon redescobre as suas ruínas em 1914, mas seria necessário aguardar até 1930 para que o Exército Brasileiro a voltasse a guarnecer, ali instalando o Contingente Especial de Fronteira do Forte Príncipe da Beira, que em 1954 teve sua designação mudada para 7º Pelotão de Fronteira, e em 1977 para 3º Pelotão Especial de Fronteira, subordinada ao 6º Batalhão Especial de Fronteira.

O seu tombamento data de 7 de agosto de 1950, através do processo número 395-T, com a inscrição 281 no Livro Histórico, fls. 48, pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Em 8 de abril de 1983 em solenidade com a presença do Presidente João Baptista de Figueiredo e o embaixador de Portugal Adriano Carvalho, sob a salva de 21 tiros de canhão, foi assinado o Termo de Compromisso entre o Ministério da Educação e Cultura, o Ministério do Exército e o Governo de Rondônia visando a restauração, conservação e utilização do Forte.

Técnicos do SPHAN se responsabilizaram pela pesquisa arqueológica e pelos levantamentos necessários à elaboração do projeto de restauração, que contou ainda com a participação de consultores portugueses da Fundação Calouste Gulbenkian, uma vez que todo o material iconográfico de construção do forte se encontra em Portugal. O Ministério do Exército, através do 3º Pelotão Especial de Fronteira ficou responsável pelo apoio material ao projeto.

 
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