Manoa do Eldorado
Conheça a cidade onde os homens eram cobertos com ouro


Muito já se escreveu sobre cidades escondidas nas selvas Amazônicas. Cidades com ruas majestosas, com calçamento em ouro. Muitos já tentaram encontrar esses lugares e muitos morreram na tentativa. Sobressai nesses relatos fabulosos um lugar chamado Manoa do Eldorado, onde o ouro abundante seria usado para cobrir o corpo dos altos dignatários da cidade.

Parte de tudo o que se sabe sobre esse assunto é atribuído às crendices dos povos gananciosos, notadamente os espanhóis, que colonizaram as Américas. Parte é creditada aos índios, que tendo aprendido a conhecer os europeus, sabiam desembaraçar-se prontamente dos visitantes indesejáveis, contando-lhes que outras tribos, situadas nos limites do horizonte, possuíam grandes quantidades de ouro.

Mas seja como for, não se pode desprezar tudo o que a história nos legou como herança cultural documentada ou transmitida oralmente. Com certeza alguma coisa lá existe, no meio da selva, e é em busca dela que iremos.
 

A selva

A Amazônia é uma das mais difíceis e inóspita região que existe no mundo para se penetrar. A floresta tropical chuvosa é a mais vasta do planeta. É bem maior do que a do Congo, embora longe dos rios seja cortada por planícies. É uma das regiões em que mais chove no mundo e, mesmo quando não chove, o céu está sempre coberto, tornando difícil ali tomar a orientação do sol ou das estrelas. Como a linha do equador passa exatamente no centro desta região, ela é um verdadeiro repositório de vapores quentes, umidade e calor.

Os mamíferos terrestres que lá vivem são pequenos e raros. 0 jaguar e a onça, únicos carnívoros de maior estatura, atacam raramente o homem. Os vampiros, grandes morcegos, são incômodos mas não constituem grande perigo. Os mais "vistosos" dos animais dessas florestas são pássaros e sobretudo pequenos mamíferos aborígenes, pequeno mundo gritador, cacarejador, tagarela e desinquieto. São bandos de papagaios, tucanos, macacos, esquilos, tamanduás, pangolins, coatis, gatos, porcos-espinho, etc. A família dos répteis apresenta alguns representantes venenosos, mas o primo do caiman (uma espécie de crocodilo da América do Sul) que povoa essas regiões em grande quantidade, raramente é muito grande para ser perigoso. Os animais mais temíveis nos rios são as enguias elétricas e um pequeno peixe armado com grandes dentes, a piranha, que reduz a ossos todo o animal ou ser humano que cai na água, isto no espaço de alguns minutos. Os verdadeiros perigos da Amazônia são os insetos e as bactérias.

Morre-se de muitas maneiras naquela região: de cansaço, tentando atravessar a vegetação sufocante; escorregando em um poço sem fundo; sendo levado pela enchente de um rio; de fome após esgotar suas provisões, lutando com indígenas ou sendo vítima de uma das inúmeras doenças que reinam em uma das regiões mais insalubres do universo.
 

Como nasceu o mito

Todos nós sabemos como se extinguiram as velhas raças civilizadas das Américas: o império Asteca no México, as tribos maias do Iucatan e o império dos reis Quechuas ou Incas do Peru, do Equador, do Chile e da Bolívia. Não desconhecemos os meios pelos quais foram destruídos - pela violência e pela traição.

Quando não roubavam nem massacravam os indígenas, os conquistadores lutavam entre si, armavam traições, assassinavam uns aos outros com uma crueldade jovial, uma perfídia e uma baixeza inatas, dificilmente separáveis do caráter de uma nação ou de uma época.

Por volta de 1535, tendo conquistado o México e o Peru e roubado todo o ouro e as outras riquezas transportáveis desses países, os conquistadores puseram-se a olhar ao seu redor com a intenção de realizar novas conquistas. No Iucatan, os Montejos continuavam a interminável conquista aos maias e quem poderia dizer que outros impérios cobertos de ouro encontravam-se ainda na imensidade das terras novas? Os conquistadores só tinham explorado uma fração ínfima dos territórios americanos e já tinham recolhido tanto ouro que este resultara para a economia européia um sério desequilíbrio, que levara à inflação. Mas, o que se poderia esperar, se fosse possível chegar a explorar as regiões novas?

Enquanto se aniquilava a última resistência organizada dos incas, um general espanhol chamado Sebastian de Belalcazar, perseguiu o exército do peruano Apo (senhor) Ruminavi ao norte de Lima, na direção de Quito, onde os indígenas foram finalmente vencidos e dispersados (1). Em Quito, um indígena contou a Belalcazar uma história lisonjeira. Longe ao norte dizia, vivia uma tribo tão rica que observava o seguinte preceito: quando um velho chefe morria, a tribo elegia outro e instalava-o em suas prerrogativas, por meio de notável cerimônia. Toda a população dirigia-se ao lago Guatavita, que se acha nas proximidades.

À frente seguiam homens nus, cujo corpo era pintado de ocre vermelho, sinal de luto fechado entre os Muysca. Atrás iam grupos, compostos de homens ricamente ornados com ouro e esmeraldas, a cabeça coberta com penas, e guerreiros vestidos com pele de jaguar; enfim, viam-se os nobres da tribo, o sumo sacerdote que levava o chefe eleito, também chamado uzaque, em um palanque com discos de ouro. Seu corpo inteiramente nu era untado com substâncias resinosas e completamente coberto de pó de ouro. Era o homem dourado: el hombre dorado, cujo renome atingira a costa marítima. Chegando ao lago, o chefe dourado e seus seguidores subiam numa balsa, que os levava ao centro do lago. Lá, o chefe mergulhava na água e lavava o ouro de seu corpo, enquanto sua corte lançava nas ondas o ouro e as jóias que levava. Depois da oferta, o chefe voltava para as margens do lago e contornava a cidade de Guatavita onde a festa terminava em danças e banquetes.

Belalcazar arranjou um bando de ávidos "procuradores de ouro" e subiu com eles os Andes, a uma distância de 500 milhas na direção nordeste, até que atingissem o planalto de Cundinamarca, onde os aventureiros tiveram de reconhecer que outros já os haviam precedido na mesma busca (2).

A costa norte da América do Sul, atual Colômbia, estava então como Nova Granada, sob as ordens de um governador espanhol, Pedro Fernandez de Lugo, cujo quartel general era em Santa Marta. Esse Lugo projetara expedições, uma das quais através do país, comandada por seu lugar-tenente Gonzalo Giménez de Quesada. Outra por via fluvial, que consistia em uma pequena frota de barcos leves, sob seu comando. Partiram em 1536, mas ao se constatar que os barcos eram impróprios para a navegação, Lugo voltou para a pátria, abandonando a expedição "terrestre".

Esta abriu caminho através de florestas impenetráveis, subindo o Madalena (rio da Colômbia), não sem grandes provações (3). Entretanto, escapou à destruição total, graças ao comando de Quesada. 0 vale de Madalena recebera, sete anos antes, a visita do governador alemão da Venezuela, Ambrosius Dalfinger, e todos os indígenas, que não tinham sido massacrados ou escravizados, tinham fugido de modo que não encontraram nada para comer nem roubar.

Em 1537, a expedição de Quesada contava com oitocentos homens e logo atingiu o planalto de Cundinamarca. Este planalto era habitado pelos indígenas Muysca, tribo do grupo dos chibchas, que dava a seu reino o nome de Bocota ou Bogota e a principal cidade Muequeta. Quesada expulsou-os, por meio de constantes escaramuças, apoderou-se da capital e fundou, não longe de lá, a cidade de Santa Fé de Bogotá, atual capital da Colômbia. Com esse quartel general, submeteu a região ao redor e soube extrair o equivalente à quarta parte de um milhão de pesos de ouro - fração insignificante comparada com o saque do Peru.

Belalcazar foi seguido de perto por outro bando, comandado por um dos alemães dos Welser, Nicolaus Federmann, da Venezuela. Dalfinger morrera violentamente alguns anos antes e seu sucessor, Georg von Speyer, partira para explorar as planícies situadas ao sul da Venezuela. Federmann devia encontrar-se com ele, levando reforços, mas com a deslealdade que caracteriza os verdadeiros conquistadores, fora para o lado do oeste, na direção tomada pelo falecido Dalfinger. Assim, chegou também a Cundinamarca com cem homens, em vez de quatrocentos.

Os três grupos armados, que eram mais ou menos de igual força brandiram armas brancas e mosquetes. Entretanto, os padres que os acompanhavam, persuadiram os três capitães a irem à Espanha pedir ao rei-imperador para resolver a questão, enquanto o irmão de Quesada, Hernán Pérez de Quesada tornava-se o comandante das forças unificadas.

Quando os três chefes, Belalcazar, Quesada e Federmann voltaram, só o primeiro usava o título de governador de Popayan, na vertente oeste dos Andes, a meio caminho de Quito e Bogotá. Federmann voltou de mãos vazias, por ter desertado de seu posto junto com Speyer, governador dos Welser. Enfim, Quesada voltou, ao fim de dez anos de vida na Europa, tendo como única bagagem dois títulos honoríficos que lhe permitiram fazer figura na colônia. Em 1569, com quase setenta anos, retomou, acompanhado por quinhentos homens, sua busca ao hombre dorado. Após dois anos de exploração na região do Orinoco, voltou com vinte e cinco sobreviventes e consagrou o resto de seus dias a escrever suas aventuras.

0 que acontecera com o homem dourado de Cundinamarca? As tropas dos três guerreiros, que partiram para a Europa, fraternizaram-se e começaram a procurar o lago Guatavita, que não tardaram encontrar. Era um lago circular, de uma milha de diâmetro, no cume de uma montanha rodeada de picos, que a dominavam. Mas nenhum homem dourado veio fazer-lhes uma visita.

Apareceu então aos aventureiros uma explicação simples: o homem dourado, que se tornara lendário, foi transportado do planalto de Cundinamarca para duas ou três centenas de milhas a este, nas florestas do Meta, o rio do mesmo nome que se encontra com o Orinoco. Mas, em lugar de ser polvilhado com ouro, somente no dia de sua subida ao trono, o homem fabuloso estava sempre preparado assim e também seus oficiais. Finalmente, o termo el dorado estendeu-se do homem dourado, a toda uma região: Eldorado, onde o ouro era coisa tão comum quanto a lama do chão e só aguardava a vinda dos ambiciosos espanhóis.

Em 1530, Diego de Ordaz, antigo companheiro de armas de Cortês, que explorava o Orinoco, ouviu falar de um grande lago na região do Meta, onde vivia uma população indígena, que possuía muito ouro (4). 0 próprio Ordaz nunca chegou a atingir esta região, porque desentendeu-se com outros conquistadores a respeito das fronteiras de seus bailiados. Mais tarde, outros exploradores, Herrera, Ortal e Speyer atingiram-na - o último chegou até as fronteiras do Equador - para certificar-se de que não havia, na região do Meta, nem lago, nem tampouco indígenas civilizados.

Mas a lenda continuava. Em 1539, o meio irmão de Francisco Pizarro, Conzalez, saiu de Quito com um grupo de mais de duzentos espanhóis, quatro indígenas e um grande rebanho de gado, a fim de descobrir o Eldorado e, se possível, um país onde crescesse a árvore que produzia canela (5). Esse grupo quase morreu gelado na passagem dos Andes, sofreu terríveis furacões e terremotos. Finalmente abriu caminho através da região, onde se encontra a bacia do rio Curaray, na parte sul do Equador. Este rio lança-se no Napo que, por sua vez, se lança no Maranón, que passa a se chamar Solimões, quando entra no Brasil.

Os homens de Pizarro encontraram a canela de casca cheirosa. Cheios de esperanças, denominaram a região Canela, mas acontece que essa árvore era rara. Por outro lado, a expedição começava a fracassar. Os exploradores fabricaram então um pequeno barco, servindo-se dos pregos que mantinham os ferros de seus cavalos mortos e com suas camisas esfarrapadas calafetaram as fendas. Pizarro fez subir no barco seu lugar-tenente Francisco de Orellana, e mais cinqüenta homens e deu ordem à equipagem de permanecer na mesma altura que ele, enquanto seguia as margens do rio com a esperança de apanhar alguma caça.

Mas, o rio fazia com que o barco fosse muito depressa para que Pizarro pudesse seguí-lo. Orellana parou e esperou, mas Pizarro não apareceu. Então, atormentado pela fome, Orellana abandonou seu chefe e desceu o rio até o Atlântico, onde chegou em 1541 (6).

Orellana tinha consigo um dominicano chamado Carvajal, que se encarregou de redigir o jornal da expedição. Ao fazer isto, narrou que na embocadura do Rio Negro tinham travado uma batalha, (entre os numerosos combates que tiveram com os indígenas) na qual mulheres indígenas tinham tomado parte (7). 0 fato nada tem de extraordinário em si, mas o bom padre acrescentava que aquelas mulheres não pertenciam à tribo combatente, mas que eram enviadas por outra tribo, muito rica, inteiramente composta de mulheres-guerreiras que, de vez em quando, encontravam-se com homens pertencentes a outras tribos, a fim de reproduzir sua raça.

A palavra amazona significa em grego "que não tem seio". Corre a hipótese de que a mutilação do seio direito tenha-se originado de um costume, que exigia que o seio direito fosse cauterizado ou cortado, a fim de permitir que as guerreiras pudessem servir-se do arco, mais comodamente. Seja como for, as "guerreiras indígenas" deram seu nome ao rio, em cujas margens travavam combates.

Quanto a Pizarro, desistiu de continuar a expedição e voltou para Quito a pé, com seus companheiros. Estavam nus, armados com sabres enferrujados, porque tinham mascado os forros de couro, após terem comido os cavalos.

Na mesma época, outra expedição partiu em sentido contrário (8). Speyer estando morto, o bispo de San Domingo substituiu-o interinamente como administrador da Venezuela, e designou para chefe da nova expedição, que procurava o Eldorado, o lugar-tenente de Speyer, Philippe von Hutten de Wurtemberg. Em 1541, von Hutten deixou Coro, na costa da Venezuela. Estava acompanhado de um jovem da família dos Welser e de uma centena de cavaleiros. Como muitos de seus predecessores, perseguiu a lenda dourada até a capital da poderosa tribo Ornaga, perto do rio Japurá, que se lança no Amazonas, depois de atravessar a Colômbia. Mas, os indígenas não temeram a pólvora dos europeus, que tiveram de fugir diante de um exército de 15.000 indígenas.

Ao voltar para a Venezuela, von Hutten teve a surpresa de saber que um espanhol Juan de Carvajal, fora nomeado governador da Venezuela, tendo os espanhóis resolvido acabar com o poder assim como com o feudo dos Welser - o que logo foi realizado. Carvajal instituiu um reino de terror em Coro. Temendo que Hutten se opusesse a seu poder, conseguiu surpreendê-lo invadindo seu campo à noite. Tendo desarmado os homens de seu adversário, mandou cortar a cabeça de Hutten e de Welser. Sua vitória, porém, devia ser breve pois, após algum tempo, um magistrado e alguns soldados detiveram-no e sua cabeça teve o mesmo fim triste.

0 caçador do "Dorado" que lhe sucedeu foi um jovem, Pedro de Ursua, que tinha a intenção de lutar contra os indígenas Musos, que esperava massacrar em seu campo, mas estes não se deixaram vencer e a luta tornou-se muito áspera.

Nesta ocasião, os oficiais do exército real que estavam na Bolívia, não sabendo como empregar os turbulentos aventureiros que povoam a região e que o extermínio ou a submissão das tribos indígenas como também a dissipação das riquezas do país pelos saques deixava desocupados, tiveram a idéia de reuní-los todos em uma última batida tendo por finalidade a descoberta do Eldorado. 0 momento era propício, porque corriam maravilhosos rumores dourados a respeito da capital das tribos que Hutten atacara antes sem sucesso. Ursua, jovem temerário e insatisfeito, foi escolhido para chefe porque reunia aos olhos dos oficiais do rei todas as particularidades de caráter próprias para conduzir todo o bando de malandros.

Uma frota foi organizada no Rio Llamas que desce a encosta mais elevada dos Andes Peruanos a este e que deságua no Maranón - Amazonas.

Como se pode imaginar, as dificuldades começaram logo a seguir. Alguns dos homens assassinaram o lugar-tenente de Ursua, Ramiro. 0 comandante fê-los sair de seu esconderijo com uma promessa de perdão e depois mandou prendê-los. Enquanto a frota prosseguia descendo o curso do rio sem encontrar ouro mas grande quantidade de crocodilos, nuvens de mosquitos e algumas vezes indígenas nus vivendo miseravelmente, os homens começaram a se irritar com as promessas magníficas que não se realizavam. Um vasco sinistro, que se chamava Lope de Aguirre, formou um complô para dar fim em Ursua. Assim, outro homem foi nomeado chefe do bando: Fernando de Guzmán.

Mas Guzmán pensava sinceramente encontrar o Eldorado enquanto Aguirre desejava continuar sua carreira de pirata, até o dia em que encontrasse uma região de acordo com seus sonhos onde se estabeleceria para fundar uma nova nação. Deste modo, Aguirre e seus companheiros mataram Guzmán e Aguirre foi proclamado general do Maranón

Daí por diante, toda a "gang" desaparece. Pode ser que tenha seguido a rota de Orellana na direção da embocadura do Amazonas ou que tenha subido o rio Negro a partir do ponto em que se une com o Amazonas para se dirigir ao rio mais singular que existe no mundo, o Cassiquiare. Sabe-se que nunca um rio se divide entre duas bacias fluviais; entretanto é o caso desse curso dágua, que vai do Orinoco ao Rio Negro, afluente do Amazonas. 

Enfim, em 1561, Aguirre e seus valentões chegaram à ilha Margarita ao largo das costas da Venezuela, a meio caminho entre Trinidad e Caracas. Aí o chefe impôs sua lei no estilo mais sanguinário durante dois meses e conseguiu matar o governador e seus oficiais. Depois invadiu o interior da Venezuela. Entretanto, foi abandonado por seus homens, cansados do ofício de assassinar. Pego finalmente por um destacamento realista, foi assassinado por estes.

Na época, exatamente em consequência disso, a Colômbia oriental, a Venezuela do Sul e as partes adjacentes do Brasil tinham sido exploradas em todas as direções sem nenhuma notícia do Eldorado, e com isso o mito foi deslocado mais para este, no vale do Rio Branco ao norte do Brasil, e nas regiões vizinhas da Guiana Francesa onde o rio Oiapoque e seus numerosos afluentes correm para norte, na direção do oceano.

Em 1584, uma nova expedição comandada por Antônio Berrio partiu de Bogotá, na direção da bacia do Orinoco, que desceu de barco (10). Durante aquela viagem fluvial, Berrio colheu novas informações a respeito de um tesouro fabuloso que deveria estar na ilha de Manoa, situada no meio do grande lago Manoa ou Parima. Enviou seu auxiliar Domingo Vera à Espanha para organizar uma verdadeira expedição.

Este saiu da Espanha em 1595 com uma frota e mais de dois mil homens. Parou em Trinidad, foi a San Tomé e embrenhou-se no mato em muitas direções. No fim de alguns meses, os exploradores estavam quase todos mortos por causa de doenças, picadas de serpentes, fome, índios e outras vicissitudes habituais na selva venezuelana.

Por estranha coincidência, na ocasião em que Vera saía de San Lucas, Sir Walter Raleigh velejava de Plymouth com a intenção de tentar uma expedição em que seria o chefe. Por sua vez, parou também em Trinidad o tempo necessário para saquear e incendiar a cidade de San José onde aprisionou o governador de Trinidad, Antônio de Berrio, que encheu os ouvidos de seu carcereiro com as histórias de Manoa e seu lago. Raleigh continuou seu caminho subindo o delta do Orinoco com uma frota de pequenos barcos, quando seria preferível ter um grande navio pois, logo que saíram do delta, encontraram-se num rio imenso e profundo. Entretanto, o inglês não foi longe. Logo que soube de frotas espanholas importantes que avançavam ao seu encontro, fez meia volta e voltou para a Inglaterra onde descreveu a descoberta do grande, rico e magnífico império da Guiana, com a descrição da cidade de ouro, Manoa, a que os espanhóis chamam El Dorado.

Um mapa, publicado por Théodore de Bry em 1599, mostra a Guiana ocupada pela grande ilha marinha Parima; nas costas orientais, ao norte, encontra-se a cidade dourada de Manoa, ao sul da qual andam homens sem cabeça.

Raleigh tentou novo meio de exploração na América do Sul em 1617, ao ser libertado da prisão onde fora encerrado por seu inimigo o rei Jaime I sob condição de que devolveria o ouro das regiões espanholas se lá conseguisse penetrar.

Raleigh conseguiu, mas não encontrou ouro e, depois de uma escaramuça com os amigos espanhóis de Jaime, combate que custou a vida a um de seus filhos, coroou sua existência feita de uma série de temeridades voltando para as grades de Jaime.

0 brilho do Eldorado extinguiu-se pouco a pouco, mas o lago Parima tornara-se um ponto geográfico mencionado no mapa que representava o norte da América do Sul e permaneceu assim durante duzentos anos. Estava situado entre as bacias do Amazonas e do Orinoco onde os cursos d'água são muito estreitos para serem navegáveis.

Deste modo o lago Parima (ou Manoa ou Guaiana ou Rupumuni), ainda que despojado de suas cidades douradas, continuou a figurar nos mapas até 1800-1802, época em que o barão de Humboldt percorreu 1.700 milhas na selva para provar que não existia e que não havia nenhum grande lago na região, se bem que o hábito desagradável que têm os rios que a cortam de fazer buracos que transbordam em centenas de quilômetros quadradas possa dar uma idéia errônea, ao viajante recém chegado. 

Quanto ao lago Guatavita que é a fonte de todas essas aventuras, os espanhóis tentaram por muitas vezes encontrar, mas sem sucesso até o dia em que, no século XX, um inglês o conseguiu. Encontrou-se no lodo do fundo uma série de objetos de ouro, de certo interesse arqueológico, mas de nenhum valor fabuloso.

 
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