O Senhor dos Anéis
O começo da grande aventura


A obra de J.R.R. Tolkien nos ensina muito mais do que literatura ou como nos comportar diante dos desafios que nos são apresentados. Ensina principalmente como lidar com o imaginário das pessoas e como lastrear uma criação, de forma firme e consistente. É, antes de qualquer coisa, uma aula de criatividade.

Leia com atenção esse pequeno trecho e perceba como é difícil resistir à tentação de seguir adiante. Ele refere-se ao final do conselho de sábios, que acontece em Valfenda e onde fica claro que alguém precisa destruir o Anel do poder, numa empreitada de vida ou morte.

Elrond chamou os hobbits (Frodo, Sam, Pippin e Merry). Olhou gravemente para Frodo.

- Chegou a hora - disse ele. - Se o Anel deve partir, é preciso que vá agora. Mas os que o acompanham não devem confiar em que sua missão seja facilitada por alguma guerra ou força. Devem entrar no domínio do Inimigo sem ajuda. Você ainda mantém a sua palavra, Frodo, de que será o Portador do Anel?

- Sim - disse Frodo. - Irei com Sam.

- Então não posso ajudá-lo em muita coisa, nem mesmo com conselhos - disse Elrond. - Consigo prever muito pouco do seu caminho, e como sua tarefa deve ser desempenhada eu não sei. A Sombra agora já chegou aos pés das Montanhas, e avança até a região próxima ao rio Cinzento; sob a Sombra tudo fica escuro aos meus olhos. Você vai se deparar com muitos inimigos, alguns declarados, alguns disfarçados; e poderá encontrar amigos em seu caminho, quando menos esperar. Enviarei mensagens, quantas puder, para todos os que conheço pelo mundo afora; mas as terras hoje em dia se tornaram tão perigosas que algumas podem muito bem se extraviar, ou chegar depois de você.

- E escolherei pessoas para acompanhá-lo, até onde estejam dispostas ou até onde a sorte de cada um permita. O número deve ser pequeno, já que sua esperança repousa na velocidade e no segredo. Mesmo que eu tivesse uma horda de elfos providos com armaduras, como nos Dias Antigos, isso de pouco valeria, a não ser para acordar o poder de Mordor.

- A Comitiva do Anel deverá ser composta de Nove; e os Nove Andantes devem ser colocados contra os Nove Cavaleiros, que são maus. Com você e seu fiel servidor, Gandalf deve partir, pois esta será sua maior tarefa, e talvez o fim dos seus trabalhos.

- Quanto aos restantes, devem representar os Povos Livres do Mundo: elfos, anões e homens. Legolas irá representando os elfos. Gimli, filho de Glóin, representará os anões. Estão dispostos a ir no mínimo até as passagens das Montanhas, e talvez mais além. Representando os homens, você terá Aragorn, filho de Arathorn, pois o Anel de Isildur é de grande interesse para ele.

- Passolargo! - disse Frodo.

- Sim - disse ele com um sorriso. - Peço novamente permissão para ser seu companheiro, Frodo.

- Eu teria implorado que viesse comigo - disse Frodo - ,mas pensei que você iria para Minas Tirith com Boromir.

- E irei - disse Aragorn. - E a Espada-que-foi-Quebrada deverá ser reforjada antes que eu parta para a guerra. Mas a sua estrada e a nossa serão a mesma por muitas centenas de milhas. Portanto, Boromir também estará na Comitiva. É um homem valoroso.

- Restam mais dois - disse Elrond. - Nesses ainda vou pensar. Em minha própria casa poderei encontrar alguém que me agrade.

- Mas assim não restará lugar para nós! - Gritou Pippin desanimado. - Não queremos ficar para trás. Queremos ir com Frodo.

- Isso porque vocês não entendem e não imaginam o que os espera pela frente - disse Elrond.

- Nem Frodo - disse Gandalf, inesperadamente apoiando Pippin. - Nem qualquer um de nós pode enxergar claramente. É verdade que se esses hobbits entendessem o perigo não ousariam ir. Mas ainda assim desejariam ir, ou desejariam ousar, ficando envergonhados e infelizes. Eu acho, Elrond, que nessa questão seria bom confiar mais na grande amizade deles do que na grande sabedoria. Mesmo que escolha para nós um senhor élfico, como Glorfindel, ele não poderia abalar a Torre Escura, nem abrir a estrada que conduz ao Fogo, por meio dos poderes que tem.

- Você fala sério - disse Elrond - ,mas estou em dúvida. O Condado, pelo que pressinto, não está livre de perigo; e pensei em mandar estes dois de volta como mensageiros, para fazer o que pudessem, de acordo com as maneiras de sua terra, para advertir as pessoas sobre o perigo que correm. De qualquer modo, julgo que o mais jovem dos dois, Peregrin Tûk, deve permanecer. Meu coração é contra a sua partida.

- Então, Mestre Elrond, o senhor terá que me acorrentar numa prisão, ou me mandar para casa amarrado num saco - disse Pippin. - Pois, de outro modo, seguirei a Comitiva.

- Então, que seja assim. Você irá - disse Elrond, e e suspirou. - Agora a conta dos Nove está completa. Em sete dias, a Comitiva deve partir.

 
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